7.21.2011

Para aquele que chamo de irmão...

Para aquele que chamo de irmão ontem, hoje, sempre, nessa ou em qualquer vida. Nesse universo ou em qualquer outro que eu desconheça.

Onde quer que você esteja.

Para todos os segundos de vida que passamos juntos, construindo uma história de família, de amigos, de amores.

Para todas as vezes que choramos, nos assustamos, nos emocionamos e rimos juntos de tudo, de qualquer coisa, e tiramos sarro dos outros.

Para todas as nossas cumplicidades.

Para todas as suas caras, caretas e bocas.

Para todas as suas manias, aquelas que eu admirava, e aquelas que eu detestava, como tomar leite e largar o copo no chão da sala.

Para seu olhar doce, profundo e azul.

Para as horas e horas que você ficava brincando de carrinho no chão da sala.

Para sua risada alta e descomprometida com a vida. Uma risada de deboche, de alegria.

Para o seu poder de colorir o ambiente, de entrar, tumultuar e sair. Deixando agente com aquela sensação de “O que aconteceu?”

Para todas as vezes que tentei arrumar seu quarto. Para sua bagunça, sua desorganização.

Para seu atraso, sempre com pressa, correndo, atrasado, cheio de coisas pra fazer, cheio de mistérios.

Para todas as vezes que você deixou a mamãe louca pois tinha sumido, vendido, ou feito sei lá o que com alguma coisa sua.

Para sua preguiça, fugindo de mansinho pro quarto do vovô e da vovó para se jogar na cama deles.

Para nossas brincadeiras com nossos times que enchiam a minha vida de alegria. Uma distração. Uma deliciosa bobagem!

Para todas as vezes que você devorava a comida da vovó.

Para sua displicência com a escola e seus sumiços no litoral paulista.

Para os adesivos horríveis que você insistia em colar na janela.

Para sua insistência em quebrar regras e paradigmas e usar chinelo havaiana sem camisa na ceia de natal deixando a vovó com os cabelos em pé.

Aliás, falando em cabelo, para sua mania insuportável de mexer e despentear os outros.

Para seu jeito sempre apaixonado, sempre acreditando nas pessoas e na vida.

Para sua mania de falar sem parar, deixando agente sem ar.

Por todas as pessoas que você deixou aqui, todos os amigos, primos e nós – sua família.

Para a criança linda que você trouxe para nós.

Para tudo aquilo que eu lembro de você e tudo aquilo que não lembro nesse momento, mas que está impregnada na minha alma e no meu coração.

Para os seus 29 anos de vida neste planeta, vida agitada, intensa, apaixonada, profundamente amada.

Para você que foi ser anjo no céu para olhar por nós.

Te amo, te admiro, profundamente, eternamente...até que estejamos juntos de novo.

Feliz aniversário Caio!

Sua irmã Paula – 21/07/2011

P.S.: comecei esse texto chorando, mas terminei sorrindo.

Executivas modernas, com E maiúsculo!

Estou com a idéia desse texto na cabeça há algum tempo, mas a pressa do dia a dia não me ajudava a sentar e escrever. Mas vamos lá! Acho que agora vai!
Eu trabalho desde meus 18 anos e segurei meu filho nos braços pela primeira vez com apenas 22. Desde então fiquei amiga íntima da culpa. Conforme os meses iam passando e a realidade de ter que voltar ao trabalho ia me assombrando, eu ia chorando, chorando, chorando. Meu bebe, tão pequeno, tão dependente, tão lindo, e eu, mãe solteira, jovem, perdida, assustada, sem faculdade, morando com minha mãe, tendo que obviamente ir a luta para sustentar meu filho.

Comecei a trabalhar numa loja no Shopping Paulista, por intermédio de uma parente distante que me indicou para ser vendedora no período de natal. Como sempre acontece no mundo corporativo, e na vida, existem Anjos e Demônios (com o perdão do Dan Brown por usar seu título). E nesse caso, encontrei um anjo! A gerente da loja era uma moça educada e muito bacana, e resolveu me ajudar, me concedendo o privilégio de não ter que “dobrar” o horário de trabalho, pois para um folgar, outro tinha que dobrar. Mas a minha alegria durou pouco, o anjo foi dispensado, vindo no lugar o demônio que tratou logo de acabar com a minha graça e me fazer “dobrar” como qualquer mortal. Era o inferno na terra, eu ia chorando, passava o dia chorando e voltava chorando, e para piorar, nos horários de mamada, meu peito vazava, ou como dizia minha avó “acordava”.

Não demorou muito e eu fui mandada embora pelo demônio. Feliz, em casa, sem um tostão, e vivendo da ajuda da minha mãe, fiquei cuidando do meu pequeno, até ele completar 2 anos e meio, quando eu conscientemente entendi que precisava fazer alguma coisa, que ele precisava ir para escola e eu retomar a minha vida, pois acabei perdendo completamente a minha identidade. Eu costumo dizer que deixei de ser a Paula e passei a ser somente e completamente a mãe do Flávio. Fui a luta!

Desde então, passei por várias empresas, grandes, pequenas, multinacionais, nacionais, familiares. De equipamentos de laboratório, passando por banco e barras de cereais, a hotelaria. Ufa! As vezes nem eu acredito.
Fiz faculdade, pós-graduação, comprei carro, paguei apartamento, coloquei meu filho na faculdade e me tornei uma profissional experiente e respeitada. Ganhei algum dinheiro, não muito, fiz 40 anos e continuo na luta, todo dia acordando as 06:10h da manhã.

Posso dizer seguramente que, nesses quase 20 anos, nenhum dia de trabalho foi plenamente feliz, mesmo agora com meu filho moço. Por todo esse tempo eu sempre carreguei a angústia de deixá-lo. Deixá-lo com a avó, na escola, em casa sozinho, enfim. Sempre me questionei se esse era o caminho, se não haveria uma alternativa, uma outra fórmula. É isso mesmo? No mundo moderno as crianças são criadas pelos “outros” enquanto as mães muitas e muitas vezes são responsáveis por trazer o sustento para casa? Pois é, nunca encontrei a resposta.

Mas, mais do que isso, eu nunca acreditei que uma mulher, para ter sucesso no mundo corporativo devesse ser dura, insensível e não demonstrar sentimentalismos. Eu sempre tive como verdade absoluta que, para que o fardo você menor, já que trabalhar é preciso, que nós mulheres pudéssemos nos comportar como mulheres, sendo sensíveis e maternais e ainda sim termos sucesso na carreira, por que não!?

Histórias como o “Diabo Veste Prada” para mim são detestáveis. A personificação de uma mulher insegura e infeliz, que tenta imitar a dureza masculina para ser respeitada. Ou seja, uma louca! Não aprovo, não admiro.
Mas por muito tempo ouvi que esse era o certo, e vi muitas vezes a mídia promovendo esse tipo de profissional, que mais parece uma mulher soldado. Usa roupas corporativas, linguagem corporativa, finge ser independente e poderosa. Saí distribuindo ordens e pisando nas pessoas.

Mas sou uma otimista por natureza e com o passar dos anos, vi alguns paradigmas se quebrando. Minha mais recente heroína, é a Suzana Martins, personagem da Malu Mader na novela TiTiTi da Globo. Eu adorava chegar em casa correndo para ver a novela e quando ela aparecia admirava cada diálogo. Me sentia realizada! É uma sensação interessante quando você acredita muito numa coisa que parece que ninguém acredita e de repente você encontra a personificação da sua crença sendo transmitida para milhões de pessoas. Ela, também editora de moda (como a tal da diaba que vestia roupa de griffe), separada, apaixonada pelo filho e com um relação super saudável com ele, e uma executiva com E maiúsculo: justa, conselheira, segura, forte, e as vezes maternal.

A cada capítulo, eu reafirmava a minha crença de que o mundo corporativo, apesar de apressado, competitivo e movido a dinheiro, é feito por pessoas, por mulheres, por mães, por filhas e esposas, que podem e devem sofrer e chorar porque seus pequenos estão nas escolinhas da vida, e que tem competência mais que suficiente para conduzirem suas carreiras com firmeza e segurança, temperada com a sensibilidade da alma feminina. Tenho dito!

Paula Bueno

30/05/2011