7.21.2011

Executivas modernas, com E maiúsculo!

Estou com a idéia desse texto na cabeça há algum tempo, mas a pressa do dia a dia não me ajudava a sentar e escrever. Mas vamos lá! Acho que agora vai!
Eu trabalho desde meus 18 anos e segurei meu filho nos braços pela primeira vez com apenas 22. Desde então fiquei amiga íntima da culpa. Conforme os meses iam passando e a realidade de ter que voltar ao trabalho ia me assombrando, eu ia chorando, chorando, chorando. Meu bebe, tão pequeno, tão dependente, tão lindo, e eu, mãe solteira, jovem, perdida, assustada, sem faculdade, morando com minha mãe, tendo que obviamente ir a luta para sustentar meu filho.

Comecei a trabalhar numa loja no Shopping Paulista, por intermédio de uma parente distante que me indicou para ser vendedora no período de natal. Como sempre acontece no mundo corporativo, e na vida, existem Anjos e Demônios (com o perdão do Dan Brown por usar seu título). E nesse caso, encontrei um anjo! A gerente da loja era uma moça educada e muito bacana, e resolveu me ajudar, me concedendo o privilégio de não ter que “dobrar” o horário de trabalho, pois para um folgar, outro tinha que dobrar. Mas a minha alegria durou pouco, o anjo foi dispensado, vindo no lugar o demônio que tratou logo de acabar com a minha graça e me fazer “dobrar” como qualquer mortal. Era o inferno na terra, eu ia chorando, passava o dia chorando e voltava chorando, e para piorar, nos horários de mamada, meu peito vazava, ou como dizia minha avó “acordava”.

Não demorou muito e eu fui mandada embora pelo demônio. Feliz, em casa, sem um tostão, e vivendo da ajuda da minha mãe, fiquei cuidando do meu pequeno, até ele completar 2 anos e meio, quando eu conscientemente entendi que precisava fazer alguma coisa, que ele precisava ir para escola e eu retomar a minha vida, pois acabei perdendo completamente a minha identidade. Eu costumo dizer que deixei de ser a Paula e passei a ser somente e completamente a mãe do Flávio. Fui a luta!

Desde então, passei por várias empresas, grandes, pequenas, multinacionais, nacionais, familiares. De equipamentos de laboratório, passando por banco e barras de cereais, a hotelaria. Ufa! As vezes nem eu acredito.
Fiz faculdade, pós-graduação, comprei carro, paguei apartamento, coloquei meu filho na faculdade e me tornei uma profissional experiente e respeitada. Ganhei algum dinheiro, não muito, fiz 40 anos e continuo na luta, todo dia acordando as 06:10h da manhã.

Posso dizer seguramente que, nesses quase 20 anos, nenhum dia de trabalho foi plenamente feliz, mesmo agora com meu filho moço. Por todo esse tempo eu sempre carreguei a angústia de deixá-lo. Deixá-lo com a avó, na escola, em casa sozinho, enfim. Sempre me questionei se esse era o caminho, se não haveria uma alternativa, uma outra fórmula. É isso mesmo? No mundo moderno as crianças são criadas pelos “outros” enquanto as mães muitas e muitas vezes são responsáveis por trazer o sustento para casa? Pois é, nunca encontrei a resposta.

Mas, mais do que isso, eu nunca acreditei que uma mulher, para ter sucesso no mundo corporativo devesse ser dura, insensível e não demonstrar sentimentalismos. Eu sempre tive como verdade absoluta que, para que o fardo você menor, já que trabalhar é preciso, que nós mulheres pudéssemos nos comportar como mulheres, sendo sensíveis e maternais e ainda sim termos sucesso na carreira, por que não!?

Histórias como o “Diabo Veste Prada” para mim são detestáveis. A personificação de uma mulher insegura e infeliz, que tenta imitar a dureza masculina para ser respeitada. Ou seja, uma louca! Não aprovo, não admiro.
Mas por muito tempo ouvi que esse era o certo, e vi muitas vezes a mídia promovendo esse tipo de profissional, que mais parece uma mulher soldado. Usa roupas corporativas, linguagem corporativa, finge ser independente e poderosa. Saí distribuindo ordens e pisando nas pessoas.

Mas sou uma otimista por natureza e com o passar dos anos, vi alguns paradigmas se quebrando. Minha mais recente heroína, é a Suzana Martins, personagem da Malu Mader na novela TiTiTi da Globo. Eu adorava chegar em casa correndo para ver a novela e quando ela aparecia admirava cada diálogo. Me sentia realizada! É uma sensação interessante quando você acredita muito numa coisa que parece que ninguém acredita e de repente você encontra a personificação da sua crença sendo transmitida para milhões de pessoas. Ela, também editora de moda (como a tal da diaba que vestia roupa de griffe), separada, apaixonada pelo filho e com um relação super saudável com ele, e uma executiva com E maiúsculo: justa, conselheira, segura, forte, e as vezes maternal.

A cada capítulo, eu reafirmava a minha crença de que o mundo corporativo, apesar de apressado, competitivo e movido a dinheiro, é feito por pessoas, por mulheres, por mães, por filhas e esposas, que podem e devem sofrer e chorar porque seus pequenos estão nas escolinhas da vida, e que tem competência mais que suficiente para conduzirem suas carreiras com firmeza e segurança, temperada com a sensibilidade da alma feminina. Tenho dito!

Paula Bueno

30/05/2011

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