Sou
paulistana de corpo e alma....
Parafraseando
Caetano Veloso: Alguma coisa realmente acontece no meu coração quando eu cruzo
a Ipiranga com a São João, e sempre foi assim, desde que eu era muito pequena.
Nasci
no bairro da Mooca, na década de 70 e ainda muito menina nos mudamos para a
zona norte da cidade, num condomínio de casas chamado Parque Residencial Santa
Teresinha, com muita área verde e até um clube. O condomínio era totalmente
murado com guaritas. Hoje, penso que a proposta era até muito moderna para a
época. No fundo do condomínio tinha um córrego não canalizado. O engraçado é
que para nós, crianças, aquilo era como se fosse o fim do mundo mesmo, o limite
do planeta. Depois do muro tem o córrego e mais nada, acabou... Todo nosso
universo se restringia aquelas ruas e a passar horas e horas brincando de
esconde-esconde, pega-pega, barra manteiga, amarelinha e a andar de bicicleta.
Meus
avós tinham ficado lá na Mooca e nós os visitávamos com muita frequência. Eu
particularmente adorava quando ficávamos para o jantar, pois assim só
voltaríamos para casa à noite o que significava que eu ia poder ver as luzes da cidade! Eu amava ficar
olhando pela janela do carro de papai as luzes dos postes e a iluminação dos
prédios, pontes, construções e outdoors (que eram permitidos). Meu momento
favorito era passar na Av. Tiradentes e avistar o imenso lustre da Pinacoteca
aceso (hoje infelizmente ele não fica mais).
Então
fui estudar no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e uma das disciplinas era
História da Arquitetura. Tornei-me uma aluna assídua, daquelas que não cede a
carteira na primeira fila nem para a melhor amiga! O professor trazia muitas
fotos e a descrição detalhada de pontos inimagináveis da cidade com uma riqueza
arquitetônica incrível e que infelizmente na maioria das vezes nem nos damos
conta, passando por esses pontos sem saber de sua história e sem ao menos enxerga-los,
como o Castelinho da Brigadeiro, o Solar da Marquesa de Santos ou o Edifício
Martinelli.
Uma
ocasião, eu já era moça, tive a oportunidade de fazer uma viagem para Buenos
Aires. Passamos cinco dias conhecendo a capital, percorrendo suas ruas,
observando a arquitetura, a cultura, a gastronomia, os museus, lojas e pontos
turísticos. De volta a São Paulo me perguntei: “Porque pagamos para conhecermos
a cidade dos outros e não conhecemos a nossa?” Naquele momento me dei conta que
gastamos fortunas para conhecermos os principais pontos turísticos de Buenos
Aires, Montevideo, Nova York ou Paris sem antes termos dado uma única volta no
Parque do Ibirapuera ou ter entrado no MASP.
Então
comecei a fazer listas de locais em São Paulo com o status: Para conhecer! E
todos os anos passei a reservar alguns dias das minhas férias para esses
passeios.
Alguns
foram muito marcantes. O pavilhão japonês no parque do Ibirapuera, por exemplo,
foi uma grata surpresa. Estávamos andando a esmo pelo parque quando avistamos a
construção, entramos e uau! Que lindo! O Museu do Imigrante que me emocionou
profundamente quando vi pela primeira vez uma réplica do quadro de Bertha Worms
- Saudades de Nápoles. A festa de Nossa Senhora Achiropita, onde além das
barraquinhas havia na garagem de uma casa, logo no início da rua, o melhor
macarrão com porpeta que já comi na minha vida (com perdão da minha avó). A
escultura de Willian Zadig – O Beijo Eterno, localizada no largo São Francisco e
que já ficou guardada nos depósitos da prefeitura por mais de dez anos por ser
considerada imoral. Subir a 23 de Maio a pé, isso mesmo, a pé, no aniversário de 450 anos da cidade.
Foi Incrível! Ou passar um réveillon na Paulista com um mar de gente pra todo
lado onde mal se consegue respirar, mas mesmo assim você não quer ir embora!
Quando
adulta fui trabalhar com hotelaria, o que me permitiu viajar bastante e
conhecer lugares incríveis, mas o sentimento de casa, de estar em casa, aquele
suspiro que se dá ao sentir um calor gostoso como se fosse um abraço apertado não
sai do meu coração quando ponho os pés na área de desembarque do aeroporto da
minha amada São Paulo.
Paula Bueno
Paulistana, 46 anos...
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